O mercado de trabalho está cada vez mais competitivo e em algumas áreas, a má remuneração ainda é um tabu
Por Gustavo Aquino
Não
são poucas as expectativas de universitários com relação ao mercado de trabalho
que terão de enfrentar após a conclusão de suas graduações. Pressão, ansiedade
e receio de encarar uma nova realidade e corresponder às expectativas próprias
e às de quem os coordenam na prática de suas atividades são, muitas vezes, suas
maiores angústias. Há outros fatores que pesam tanto quanto a concorrência na
vida dos recém-formados: a baixa remuneração em algumas profissões e as
indicações de pessoas próximas para ocupações de vagas que o mercado necessita,
descartando, muitas vezes, as possibilidades de aprendizado, conhecimento e
habilidades para a execução das tarefas.
Sete jovens recém-formados
nos cursos de Fisioterapia, Enfermagem, Educação Física, Direito, Administração
e Publicidade e Propaganda conversaram com o Luz, Câmera e Variação a fim de que destacassem suas perspectivas
acerca das profissões escolhidas, das dificuldades ao longo da graduação e da
estabilização no mercado de trabalho.
SAÚDE
Lis
Carvalho (24), formada em Enfermagem desde o fim de 2011, é um exemplo de que
não basta ter formação na área da saúde para entrar com facilidade no mercado.
A grande quantidade de profissionais disponíveis é intimidador para aqueles que
concluem sua graduação e que aguardam ansiosamente um espaço no âmbito
profissional. “Tive um pouco de sorte por ter começado a trabalhar logo que me
formei. Passei por um processo seletivo bastante
extenso e obtive resultado satisfatório. Depois de um ano e meio de formada,
ainda há pessoas da minha turma que não conseguiram emprego com todos os
direitos. São mais contratos”, lembra.
Lis Carvalho (24), formada em Enfermagem (Foto: arquivo pessoal) |
Mesmo empregada atualmente, Lis Carvalho almeja o mesmo que
tantas outras pessoas: ser aprovada em concursos. “Pretendo passar em um
concurso que me propicie um equilíbrio entre carga horária e estabilidade
financeira. Meu emprego me proporciona isso, no entanto por eu trabalhar em uma
empresa privada, surgem incertezas ao longo do caminho”, frisa. O término das graduações gera ainda mais incertezas
quando os recém-formados se deparam com uma nova realidade, onde esse novo
caminho requer maiores responsabilidades e cobranças.
Outro fator que pesa na vida de um recém-formado é o de que
nem sempre experiência, currículo e conhecimento estão no topo de prioridades
de algumas empresas. “Observo que atualmente muitas oportunidades de trabalho
são oriundas de contato político. Infelizmente não somos avaliados pelos nossos
conhecimentos, mas pelo ciclo social ao qual estamos inseridos”, observa
Izadora da Costa (23), formada em Fisioterapia desde 2012.
Apesar de haver diversos graduandos no curso, Izadora da
Costa afirma ter entrado na profissão por acaso. Ela conta que ao concluir o
Ensino Médio prestou vestibular para os cursos vigentes no período de sua
inscrição para o vestibular: Direito e Fisioterapia. Acabou optando por
Fisioterapia para estudar em Maceió, já que para cursar Direito, teria de ficar
em Penedo (AL), sua cidade-natal.
Izadora da Costa (23), formada em Fisioterapia desde 2012 (Foto: arquivo pessoal) |
A fisioterapeuta já passou por experiências frustrantes. “Já
fui negada em um emprego com a justificativa de ser bastante bonita para o
cargo. Em outra situação, fui chamada para trabalhar em uma clínica e no fim do
mês não me pagaram, e até hoje não recebi”, lamenta. Sua ideia inicial seria
cursar Publicidade e Propaganda, mas acabou desistindo.
“Não
prestei vestibular para o curso porque todos falavam que era uma profissão que
não tinha mercado de trabalho e que remunerava muito mal”, lembra. Essa é uma
realidade que não é apenas encontrada na Fisioterapia; a entrada ao mercado
significa um grande obstáculo a ser enfrentado para muitos que saem das
universidades.
Como
em outras profissões, Educação Física também impõe dificuldades para aqueles
que vivem da profissão. Entretanto, a educadora Viviane Alécio, que ao
contrário de profissionais que citam a má remuneração como grande tabu de se
manterem estáveis financeiramente e no mercado, destaca as precárias condições
das escolas, falta de materiais e muitas vezes de espaço físico e alunos
indisciplinados. “Situações como essas, exigem profissionais cada vez mais
criativos e pacientes”, acredita.
Os educadores físicos Emanuel Aragão e Viviane Alécio (Fotos: arquivo pessoal) |
Por outro lado, tanto Emanuel Aragão, como
Viviane Alécio, dizem estar realizados com a profissão escolhida. “É muito
gratificante. Mesmo com todas as dificuldades, ser professor é acrescentar um
conhecimento que o aluno poderá levar por toda a vida”, diz Viviane. “Ajudar às
pessoas a alcançarem seus objetivos pessoais é uma grande satisfação”, afirma Aragão,
que como dica para aqueles que desejam ingressar na área, é preciso aproveitar
ao máximo os conhecimentos adquiridos durante a graduação, pois a clientela dos
profissionais tende a ser cada vez mais exigente.
HUMANAS
É
nítido observar que alguns conseguem empregos de forma mais rápida, enquanto
outros precisam persistir mais diante das dificuldades encontradas ao longo do caminho. “O mercado de Publicidade é pequeno. Não
existe um piso salarial, não há
sindicato de publicitários, mas há muitas vagas para quem deseja realmente
seguir na profissão. No começo da carreira é difícil, mas no decorrer dela, o
profissional cresce como em qualquer outra”, destaca Anderson Gomes, acadêmico de Jornalismo, que se formou em Publicidade e Propaganda no fim de 2012 e
que atualmente trabalha na área de mídia.
Anderson Gomes (22), acadêmico de Jornalismo e formado em Publicidade desde 2012 (Foto: arquivo pessoal) |
Gomes destaca a importância da Internet como
ferramenta fundamental para a procura de estágios. Foi assim que ele conseguiu uma
oportunidade em uma agência de Publicidade, onde estagiou por um ano e meio. Logo
em seguida, foi convidado para trabalhar em outra agência. Dessa vez, não mais
como estagiário e ao longo da graduação.
O
universitário está prestes a abrir uma empresa de Publicidade com uma sócia que
foi sua chefa no período de seu estágio. Por esse motivo, Anderson Gomes diz
ter iniciado a graduação em Jornalismo para estar sempre buscando conhecimento
e levando toda a bagagem acadêmica para a vida profissional. Para aqueles que
pretendem estudar Publicidade, Gomes é enfático: “não desistir é fundamental.
Antes de começar a cursar, seria interessante conhecer melhor a profissão e ter
em mente o que quer dela. Há a ideia de que o curso é restrito, mas a verdade é
que há vários campos de atuação”.
Há estudantes que já
adquirem experiência na área profissional desejada antes mesmo de iniciar os estudos acadêmicos, como é o caso de Neto Bertoldo (22), que se formou em Administração em 2012. “Tive experiências quando ainda era menor de idade com
profissionais da área, fato que ajudou bastante na minha escolha”, lembra ele,
que atualmente trabalha na área financeira.
Neto Bertoldo (22), formado em Administração desde 2012, trabalha atualmente na área financeira (Foto: arquivo pessoal) |
De acordo com dados do Censo da Educação
Superior, em 2012 o curso teve 833.042 matrículas em todo o país. Essa observação remete à ideia de que o mercado é bastante concorrido. As dificuldades na
graduação e no mercado não são tão diferentes de outros cursos e espaços
profissionais. “Ao longo do curso tive dificuldades em estudar disciplinas
diferentes de minha área de atuação. No mercado, o problema que ainda encontramos é a
má remuneração”, destaca Bertoldo.
O curso de Direito também vem
ganhando cada vez mais adeptos, ficando em segundo lugar com 737.271 matrículas feitas em 2012. Na maioria das vezes, muitos pensam em focar em
concursos, outros em advogar, como é o caso de Eduardo Medeiros (30), que também se
formou em 2012. “Minha meta é passar no exame da OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) o mais rápido possível. Hoje não pretendo ser
funcionário público, mas tenho um desejo pessoal de advogar e de fazer um mestrado
em Direito Público”, visa.
Eduardo Medeiros (30) tem como principal objetivo ser aprovado no exame da OAB (Foto: arquivo pessoal) |
O mercado de trabalho oferece grandes
oportunidades nos mais diversos ramos, visto que o mundo está constantemente
mudando em caráter social, econômico e ambiental. Com isso, o espaço
profissional está abrindo um leque de oportunidades nas mais diversas áreas do
Direito. “A responsabilidade de cada indivíduo nos destinos da sociedade é
imensa e é dessa responsabilidade que o mercado de trabalho abre portas”, pondera.
Sobre as dificuldades encontradas ao longo
dos cinco anos de faculdade, ele destaca a familiaridade com o
universo jurídico escrito. “Houve uma grande briga ao tentar muitas vezes
separar a visão jurídica acadêmica com a efetivação da prestação estatal do
Direito junto à sociedade”. Eduardo Medeiros é uma das provas vivas de que para
se firmar no mercado de trabalho é preciso compromisso absoluto no momento
acadêmico. “Os campos estão abertos; os concursos nas áreas jurídicas
necessitam de vagas. O que tem faltado muito é compromisso na graduação, pois
em qualquer curso tem-se de sempre ir mais além”, acredita.
“Observo que atualmente muitas oportunidades de trabalho são oriundas de contato político. Infelizmente, não somos avaliados pelos nossos conhecimentos, mas pelo ciclo social ao qual estamos inseridos”.
- O número de formandos é incompatível com o de estudantes que entram nas universidades, sendo este bastante elevado.
- O salário de um publicitário em auge de carreira pode ultrapassar dos R$ 15 mil quando o ganho está relacionado ao alcance de resultados, assim como para um educador físico, que se tiver bastante renome no mercado, a remuneração pode variar de R$ 20 mil a R$ 70 mil. Entretanto, esses números dependem bastante do talento e flexibilidade dos profissionais.
Dados:
ultimosegundo.ig.com.br
guiadoestudante.abril.com.br
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